A pouco mais de um ano das eleições de 2026, ganhou força a perspectiva de um confronto direto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Pesquisas recentes de intenção de voto apontam um cenário acirrado. Em levantamentos de maio e junho de 2025, Lula aparece empatado com candidatos da direita e atrás de Tarcísio em simulações de segundo turno (Martins, 2025; Matos, 2025). Esse desempenho fraco do atual presidente reflete queda meteórica em sua popularidade desde o fim de 2024, traduzindo-se em uma menor perspectiva de reeleição em 2026 (Martins, 2025).
Ao longo da história, o fator econômico tende a ser um fator decisivo nas eleições brasileiras. Estudos acadêmicos mostram que os eleitores costumam julgar governos pelo desempenho da economia, premiando incumbentes em tempos de prosperidade e punindo-os em tempos de crise (Pereira, 2014). Nas disputas presidenciais pós-1989, essa dinâmica se confirmou desde o sucesso do Plano Real que reelegeu FHC em 1998 até às crises econômicas que pavimentaram vitórias oposicionistas, como a de Bolsonaro em 2018. O próprio Lula experimentou ambos os cenários. Em 2006, com crescimento econômico e programas sociais em alta, venceu a reeleição com folga sobre um rival conservador, ao passo que, em 2022, retornou à Presidência por uma margem mais que estreita (menos de 2 pontos percentuais) diante de Bolsonaro. Mostrando um grau recorde de polarização ideológica no país (Bello, 2023).
No momento, a conjuntura econômica oferece sinais mistos para Lula. A inflação ao consumidor está em torno de 5% ao ano. Bem abaixo dos índices de dois dígitos de 2022, mas ainda ligeiramente acima da meta do Banco Central (Vitorio, 2025). Já o desemprego caiu para 6,2%, o menor patamar em uma década (Benevides, 2025). Além disso, o PIB voltou a crescer em ritmo moderado. A administração petista implementou um pacote de programas sociais e de investimento. Reformulou o Bolsa Família (com valor ampliado e adicional por criança), retomou o Minha Casa, Minha Vida, criou o programa Desenrola Brasil para renegociar dívidas e lançou um novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado à infraestrutura (Agência Gov, 2023). Esses esforços visam fomentar um crescimento mais inclusivo e melhorar o bem-estar social. E mais do que tudo: aumentar um pouco sua popularidade.
Apesar disso, não acredito que será uma disputa restrita a números da economia. Tarcísio de Freitas representa a continuidade do campo bolsonarista e deve explorar não apenas eventuais fragilidades econômicas (como a percepção de impostos altos ou baixo crescimento), mas também temas como segurança pública, valores conservadores e eficiência administrativa para angariar apoio de eleitores insatisfeitos. Lula, por seu lado, além de exibir indicadores macroeconômicos melhores que os do governo anterior, irá destacar suas políticas de combate à fome, geração de emprego e defesa da democracia, buscando unir sua base popular a setores moderados da sociedade. Pesquisa indica que o compromisso com a democracia influenciou o voto em 2022, favorecendo Lula (Fuks & Casalecchi, 2024), o que aponta que fatores políticos e identitários também pesarão em 2026.
Concluindo, a corrida Lula versus Tarcísio (caso ocorra) trará a economia como eixo central do debate. O governo aposta que a melhoria dos indicadores e o alívio social renderá dividendos eleitorais, enquanto a oposição tentará convencer que pode fazer mais pelo crescimento e pelo bolso do cidadão. Contudo, em um ambiente polarizado, o voto não será definido apenas por inflação ou PIB. Percepções sobre corrupção, segurança pública e democracia estarão em jogo. O embate de 2026 tende a ser um dos mais imprevisíveis da história política recente do país.
Meus 2 centavos sobre o assunto: Lula é um político consolidado, caminhando para o final de seu terceiro mandato. A economia é hoje o principal fator de sua insônia. Com a taxa Selic estacionada em 15% e pouco espaço para cortes, o dirigente petista terá de se esforçar ainda mais para encontrar seu lugar ao sol. Já Tarcísio é um político em franca ascensão, mas seu real capital político pelo Brasil ainda não está totalmente claro. Parece-me que, se o governo atual quiser garantir mais um mandato, precisará obter uma vitória retumbante em seus redutos eleitorais tradicionais; caso contrário, o país conhecerá um novo presidente em 2026.
Referências
AGÊNCIA GOV. Retrospectiva 2023: 75 programas sociais para atender a população brasileira. Brasília: Agência de Notícias Gov, 26 dez. 2023. Disponível em: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202312/retrospectiva-2023-governo-federal-investiu-na-criacao-e-retomada-de-75-programas-sociais-para-atender-a-populacao-em-situacao-de-vulnerabilidade. Acesso em: 05 jul. 2025.
BELLO, André. Polarização política e voto: o papel das questões morais e econômicas. Revista Brasileira de Ciência Política, n.40, 2023, p. 159-168.
BENEVIDES, Gabriel. Desemprego cai para 6,2% em maio, menor da história para o período. Poder360, 27 jun. 2025. Disponível em: https://www.poder360.com.br/poder-economia/taxa-de-desemprego-em-maio/. Acesso em: 05 jul. 2025.
FUKS, Mario; CASALÉCCHI, Gabriel A. When Democracy Divides the Electorate: Voting in the 2022 Brazilian Presidential Election. Brazilian Political Science Review, v.19, n.2, 2024.
MARTINS, André. Lula, Bolsonaro, Tarcísio: o que as novas pesquisas mostram sobre as eleições de 2026. Exame, 30 jun. 2025. Disponível em: https://exame.com/brasil/lula-bolsonaro-tarcisio-o-que-as-novas-pesquisas-mostram-sobre-as-eleicoes-de-2026/. Acesso em: 01 jul. 2025.
MATOS, Maria Clara. Lula perde para Bolsonaro, Tarcísio e Michelle em segundo turno, diz Atlas. CNN Brasil, 30 maio 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/lula-perde-para-bolsonaro-tarcisio-e-michelle-em-segundo-turno-diz-atlas/. Acesso em: 01 jul. 2025.
PEREIRA, Frederico B. Voto econômico retrospectivo e sofisticação política na eleição presidencial de 2002. Revista de Sociologia e Política, v.22, n.50, 2014, p. 105-127.
VITORIO, Tamires. IPCA sobe 0,26% em maio, abaixo do esperado; inflação acumulada de 12 meses fica em 5,32%. Exame, 10 jun. 2025. Disponível em: https://exame.com/economia/ipca-desacelera-em-maio-e-fica-em-026-inflacao-acumulada-de-12-meses-fica-em-532/. Acesso em: 05 jul. 2025.